A safra do boi gordo caminha para o final mas as cotações da arroba só sobem. Em São Paulo, por exemplo, já ocorrem alguns negócios a R$79,00/@, a prazo, para descontar o funrural. Quem tiver um lote grande, de animais bem terminados, nas proximidades da indústria, já consegue R$80,00/@? Bem provável que sim.
Voltei agora do Rio Grande do Sul e presenciei negócios a R$2,50/kg (o equivalente a R$75,00/@), com pagamento antecipado. Isso mesmo, antecipado em até 20 dias!
Em abril de 2008, a cotação média do boi gordo, em São Paulo, ficou em R$77,67/@, um aumento de 37% em relação aos R$56,60/@ registrados no mesmo período do ano passado. Em dólares, porém, o aumento foi ainda maior, graças à valorização do real: de US$27,84/@ para US$45,99/@, alta de 65%.
No mesmo período, a carne no atacado (boi casado), reagiu 44%, passando de R$3,16/kg para R$4,55/kg. Veja, portanto, que o mercado doméstico tem dado suporte à valorização da arroba.
O problema vem de fora, ou seja, das exportações. Os dados de abril ainda não estão disponíveis. Porém, para ter acompanhado a valorização da arroba em dólares, entre abril de 2007 e abril de 2008, o preço médio da carne
in natura exportada pelo Brasil precisa alcançar US$3.204,35/tonelada equivalente carcaça. Seria um recorde.
Dificilmente registraremos essa marca, apesar da demanda aquecida e da firmeza dos preços. Mesmo porque, o cliente que paga melhor (União Européia) não está comprando.
Os frigoríficos estão preocupados com a evolução das cotações da arroba em dólares. Vale lembrar que o boi responde por cerca de 80% do custo de produção da indústria e a valorização da carne exportada não tem acompanhado o aumento dos preços da matéria-prima. É por isso que muitas indústrias estão direcionando, propositadamente, mais carne para o mercado interno.
E agora o Brasil atingiu o tal do “Investment Grade”. Isso significa que as agências internacionais consideram que é bastante seguro investir no país. Mas como não fizemos a lição de casa através de reformas (tributária, trabalhista, etc.), a maior parte dos investimentos tende a ser de origem especulativa, o que contribui ainda mais para a valorização do real frente ao dólar.
Acompanhe só. A tendência do boi, em reais, é de alta. Afinal, a entressafra já está pintando aí (e nem na safra o boi caiu), o mercado está enxuto, as indústrias ociosas e a demanda encontra-se relativamente aquecida.
A tendência do câmbio é de baixa. O Brasil já vinha atraindo verdinhas, graças aos juros altos. Agora, o processo tende a se intensificar, com a melhoria da classificação de risco.
Portanto, nessa entressafra, boi acima de US$50,00/@, em São Paulo, vai ser barbada. A não ser que algum acontecimento inesperado, de origem econômica, política ou sanitária, influencie de forma significativa o comportamento do câmbio ou do mercado do boi gordo. (FTR)
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