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Rússia quer vetar carne congelada no processamento


Terça-feira, 27 de maio de 2008 - 09h43

A Rússia considera proibir o uso de carnes congeladas na produção industrial de salsichas, presuntos e outros produtos, deflagrando um sinal de alerta entre exportadores brasileiros e americanos. O veterinário-chefe da Rússia, Nikolay Vlasov, confirmou ontem ao Valor que a medida está sendo debatida em Moscou. Ele considera que ela é boa por "razões de saúde pública", mas disse não acreditar que será adotada. Vlasov não vê condições no momento para a Rússia deixar de usar a carne congelada, pela enorme extensão territorial do país e a distância para o transporte. Disse que substituir por carne refrigerada no caso do frango, por exemplo, poderia conduzir a problemas como salmonela. Mas outras fontes russas dão como certa que o Ministério da Saúde da Rússia vai adotar a medida. Vlasov minimizou, em todo caso, um impacto forte sobre as exportações brasileiras, se eventualmente a regulamentação técnica for adotada contra a carne congelada. Argumentou que a maior parte das carnes brasileiras, de boa qualidade, vai direto para o consumo e não para o processamento. O projeto de regulamentação técnica para banir o processamento de carnes foi pedido primeiro pela Associação de Produtores de Frango, que acionou o Ministério da Agricultura. Logo depois, produtores de carnes bovina e suína entraram na iniciativa, mas recorrendo ao órgão oficial de defesa do consumidor. Segundo fontes que acompanham o tema, os russos poderiam passar a regulamentação pela agência do consumidor, sob pretexto de saúde pública, para acelerar sua entrada em vigor, já que um projeto do Ministério da Agricultura levaria tempo para ser aprovado. A maior parte da carne importada pela Rússia é congelada. O país importa 30% das carnes bovina e de suínos que consome e 40% da carne de frango. As importações em geral cresceram 21,3%, alcançando 232 mil toneladas entre janeiro e março, comparado ao mesmo período do ano passado. O Brasil exporta cerca de 500 mil toneladas de carne bovina e mais de 300 mil toneladas de carne suína para o mercado russo, somando cerca de US$ 1,5 bilhão. A Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes Bovina (Abiec) aponta insuficiência de carne fresca produzida no país. Considera que Moscou precisaria ter alternativa na produção local ou de outros fornecedores, para interditar a importação de congelado. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, está alerta. "A Rússia é sempre um enigma, e isso é lobby para a produção local. A questão é quem vai ter força, o produtor ou consumidor. E o consumidor vai estar com o Brasil". Para exportadores, não há consistência econômica para substituir carne congelada no processo industrial por resfriada, que é mais cara. Alguns analistas acham que o alvo de Moscou na verdade é a produção barata de frango dos EUA. Os russos têm produção superior a três milhões de toneladas e poderiam substituir as importações sem maiores problemas. Nikolay Vlasov informou, por outro lado, que o Brasil poderá logo exportar animais vivos para a Rússia. Mas tampouco acha que esse comércio será elevado. "Precisamos de gado leiteiro e não de corte, como no Brasil", disse. (AM) Fonte: Valor Econômico. 27 de maio de 2008.
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