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Scot Consultoria

A carne sem pecado ambiental


Terça-feira, 23 de junho de 2009 - 09h10

Na vida no proibido errar. O que deveria, sim, ser proibido mentir. Basta da hipocrisia dessas ONGs estrangeiras que por a circulam impunemente no nosso pas e vamos direto aos fatos e dados que interessam populao brasileira em geral. Creio que a maioria das pessoas no tem uma noo exata da dimenso da cadeia produtiva da pecuria bovina no Brasil: com um rebanho de aproximadamente 198 milhes de cabeas - dito o maior rebanho comercial do mundo, responsvel pela gerao de milhes de empregos em todas as fases da produo, do pasto indstria, e de cerca de 8% do PIB, alm de exportaes de carne e couro que conjuntamente em 2008 superaram a cifra de US$8,5 bilhes -, ela de importncia capital para a economia nacional. Talvez por conta desse inequvoco sucesso do setor, hoje em dia so a pecuria bovina e a indstria de abate e processamento da carne que sofrem as maiores presses por conta da sustentabilidade socioambiental. De fato, o vertiginoso crescimento desse setor nos ltimos anos se deu de forma desorganizada, prevalecendo em larga escala a produo informal, seja na pecuria, seja na indstria de abate; e tambm em passado no muito distante no havia no Pas a menor preocupao ambiental, haja vista que at os anos 1980 ainda se ofereciam benefcios fiscais e financeiros para a expanso da pecuria bovina em Estados das Regies Centro-Oeste e Amaznica. O eventual mal feito no passado no pode comprometer a busca de aprimoramento para o futuro, mas negar a realidade atual ou mesmo querer elimin-la do dia para a noite, isso, sim, uma total utopia. Portanto, mais do que hora de promover a sua estruturao em bases sustentveis, de acordo com a legislao socioambiental em vigor. Isso pelo menos o que deseja a indstria organizada e moderna da carne bovina, pela ao estratgica da Associao Brasileira das Indstrias Exportadoras de Carne (Abiec). A recente campanha de demonizao do setor que vem sendo irresponsavelmente promovida por ONGs sensacionalistas e por alguns jornalistas com vis ideolgico no apresenta nenhuma soluo inteligente para o futuro, que combine o necessrio aumento da produo de alimentos e o objetivo comum a todos brasileiros de preservao do meio ambiente, especialmente referindo-se floresta amaznica. No reconheo nessas ONGs nenhuma autoridade moral para tratar o assunto ambiental dessa forma que vem ocorrendo, pois a preocupao sobre este tema no sua exclusividade. Passar fome no meio de um jardim botnico no me parece que seja um cenrio desejvel para cerca de 30 milhes brasileiros que hoje habitam aquela extensa e pobre regio do Pas. Na vida no proibido errar. O que deveria, sim, ser proibido mentir. Basta da hipocrisia dessas ONGs estrangeiras que por a circulam impunemente no nosso pas e vamos direto aos fatos e dados que interessam populao brasileira em geral. As atividades de cria, recria e engorda de gado de corte ocupam cerca de 172 milhes de hectares do territrio brasileiro, principalmente nas Regies Sudeste e Centro-Oeste, onde se concentram ao redor de 106,7 milhes de cabeas, ou seja, cerca de 53,9% do rebanho total. Na Regio Norte/Amaznica encontram-se cerca de 38,5 milhes de cabeas (19,4% do total), distribudas por mais de 500 mil propriedades de grande, mdio e pequeno porte, com forte concentrao no sul do Par e em Rondnia. Portanto, para implantar um confivel sistema de rastreamento ambiental nessa regio, primeiramente, deve-se regularizar a estrutura fundiria, ainda catica. H dois ndices de produtividade setorial no Brasil que ainda so muito ruins: a taxa de suporte de cabeas por hectare, cuja mdia nacional de apenas 1,15 cabea por hectare, por causa da predominncia da criao extensiva em pastagens naturais de baixa qualidade; e a taxa de desfrute, que se refere ao nmero de abates sobre o rebanho total, que no caso do Brasil de pouco mais de 22%, ou seja, cerca de 44 milhes de cabeas abatidas por ano, diante de um rebanho de 198 milhes. Em ambos os casos trata-se de ndices medocres de desempenho setorial, se comparados a outros pases do mundo, e que se no melhorados podero vir a comprometer no futuro a capacidade de crescimento sustentvel desse setor em nosso pas. Especialistas no tema indicam que se houvesse no futuro prximo um adequado investimento pblico e privado que resultasse na melhoria gentica do rebanho, na melhoria das pastagens, inclusive associando-se com sistemas intensivos ou semi-intensivos de engorda, na intensificao da defesa sanitria e do sistema de rastreabilidade da criao bovina, poderamos no perodo de uma dcada aumentar a taxa de suporte para at 1,5 cabea por hectare e a taxa de desfrute, para algo ao redor de 30%. Isso significa que o Brasil poderia vir a abater em 2020 cerca de 75 milhes de cabeas por ano, com um rebanho de 250 milhes, sem que fosse necessria a expanso adicional de sequer um hectare de terra, ou at ao contrrio, poder-se-iam disponibilizar reas de pastagens degradadas na prpria Regio Amaznica, at mesmo para a recuperao ambiental. Para enfrentar esses enormes desafios preciso que haja uma ao articulada em todos os elos da cadeia produtiva, do pecuarista ao varejo, passando pelo melhoramento gentico e pela defesa sanitria do rebanho, com a efetiva participao da sociedade civil por meio de associaes de classe como a Confederao da Agricultura e Pecuria do Brasil (CNA), a Associao Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), o Conselho Nacional da Pecuria de Corte (CNPC), a prpria Abiec e tantas outras. Somente pelo dilogo racional ser possvel a construo de solues efetivas e duradouras, que venham no futuro confirmar a posio brasileira de potncia ambiental e de maior produtora e exportadora de alimentos no mundo. Que venha logo a boa crtica, para nos ajudar a cumprir essa difcil misso. Roberto Giannetti da Fonseca, economista e empresrio, presidente da Abiec. Fonte: O Estado de So Paulo, 22 de junho de 2009
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