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10 Fatos que o pecuarista precisa conhecer sobre a qualidade da água


Sexta-feira, 30 de agosto de 2024 - 17h04

Foto: Bela Magrela


A qualidade da água é um fator decisivo na pecuária, com impactos diretos na saúde dos animais, na produtividade e na eficiência da fazenda.

No contexto das visitas realizadas durante a terceira rota do Confina Brasil, a equipe de campo da pesquisa-expedicionária teve a oportunidade de observar como uma das fazendas, a Manah, do Grupo Bocchi, em Santana do Araguaia-PA, lida com essa questão.

Neste material, abordaremos 10 fatos que todo pecuarista experiente deve conhecer sobre a qualidade da água e como essa propriedade implementa boas práticas para garantir o bem-estar e a produtividade do rebanho.

 1. A água como nutriente principal

A água representa cerca de 70% do corpo dos animais e desempenha um papel crucial na regulação de temperatura, na digestão e no transporte de nutrientes e resíduos metabólicos.

Além da quantidade, a qualidade da água é essencial. Fatores como sabor, odor, temperatura e a presença de substâncias dissolvidas influenciam diretamente o consumo voluntário de água pelos animais, impactando seu desempenho e saúde. 

 2. Relação entre qualidade da água e saúde animal: os riscos invisíveis dos contaminantes

Água contaminada com patógenos como E. coli, Salmonella e parasitas pode causar surtos de doenças, desde infecções gastrointestinais até problemas renais.

A presença de metais pesados (como chumbo e mercúrio) e resíduos de defensivos agropecuários também representa um risco significativo, podendo levar a intoxicações crônicas que reduzem a imunidade e a capacidade de reprodução dos animais. 

 3. Efeito na produção de carne

O consumo adequado de água de alta qualidade é essencial para a manutenção do equilíbrio hídrico, o que influencia diretamente a ingestão de alimentos.

Quando a água está contaminada ou tem um sabor desagradável, os animais tendem a reduzir o consumo, o que diminui a ingestão de alimentos e, por consequência, a produção de leite e carne. Estudos mostram que a redução no consumo de água pode levar a uma diminuição de até 10% na produção de leite (Embrapa, 2023). Em contrapartida, no gado de corte, o ganho médio diário (GMD) de peso dos animais com acesso a bebedouros artificiais foi 29% superior ao daqueles com acesso apenas a açudes naturais (Bica et al., 2006).


Foto por: Bela Magrela

 4. Risco de contaminação cruzada

Em sistemas de produção intensiva, onde o confinamento é utilizado, a água pode ser um vetor importante de doenças, facilitando a disseminação de patógenos como a Leptospira e a Brucella.

O risco aumenta quando a água não é tratada ou quando há falhas no manejo hídrico, como a reutilização de água sem tratamento adequado. 

 5. Importância do monitoramento contínuo

Para assegurar a qualidade da água, é fundamental realizar testes regulares que avaliem parâmetros como pH, níveis de cloro residual, condutividade elétrica, presença de coliformes totais e fecais e a quantidade de sólidos dissolvidos.

A Embrapa recomenda que esses testes sejam feitos pelo menos uma vez por trimestre, ajustando as práticas de manejo conforme necessário para evitar contaminações e garantir a saúde do rebanho. 

 6. Impacto do pH na digestão e saúde animal: como o pH afeta o metabolismo e a saúde dos ruminantes

O pH ideal da água para consumo animal deve estar entre 6,0 e 8,5. Um pH fora desse intervalo pode prejudicar a digestão e a absorção de nutrientes, levando a distúrbios metabólicos como acidose ruminal, especialmente em ruminantes.

Água muito ácida ou alcalina pode reduzir a eficiência da conversão alimentar e, em casos extremos, causar danos à mucosa gástrica dos animais. 

 7. Consequências econômicas da má qualidade da água: custos diretos e indiretos

A baixa qualidade da água pode aumentar os custos com tratamentos veterinários, reduzir a eficiência alimentar e diminuir a produtividade. Além disso, doenças causadas por água contaminada podem levar à mortalidade no rebanho e a perdas significativas na receita da fazenda. Investir na qualidade da água não só previne essas perdas como também melhora a rentabilidade, ao otimizar a produção e reduzir custos com medicamentos e tratamentos.


Foto por: Bela Magrela

 8. Necessidade de sistemas de filtragem e tratamento

Em muitas regiões, a água disponível pode trazer contaminantes que exigem filtragem antes da utilização na pecuária.

Sistemas de filtragem com carvão ativado, filtros de areia e desinfecção com cloro ou ozônio são comumente usados para remover partículas sólidas, agentes patogênicos, e melhorar a qualidade da água.

Além disso, a instalação de sistemas de osmose reversa pode ser necessária em áreas com alto teor de salinidade.

 9. Conexão com o bem-estar animal

O acesso constante à água de qualidade é fundamental para o bem-estar e a produtividade dos animais.

Além da qualidade, que envolve aspectos físico-químicos como o pH, a salinidade, e os níveis de sólidos totais dissolvidos (STD), a disponibilidade e a distribuição adequadas da água garantem que todos os animais tenham acesso suficiente, evitando situações de estresse que possam comprometer sua saúde. Um pH entre 6,5 e 8,0 é ideal, pois valores fora desse intervalo podem causar problemas como acidose ou distúrbios digestivos.

Níveis elevados de STD, acima de 4.000 ppm, podem reduzir o consumo de água e ração, enquanto a salinidade excessiva, especialmente em condições de altas temperaturas, pode ser tóxica. A presença de elementos tóxicos como chumbo, cádmio, mercúrio, além de altos níveis de ferro e sulfato, também podem impactar negativamente a ingestão de água e a saúde animal, por essa razão o tipo de bebedouro e reservatório devem ser escolhidos levando em consideração sua composição e condição de uso (Embrapa, 2023).

Portanto, a gestão cuidadosa da qualidade, disponibilidade e distribuição da água é essencial para assegurar o bem-estar dos animais, que está diretamente ligado à sua capacidade de produzir de forma eficiente.

 10. Integração com práticas sustentáveis na pecuária

A gestão eficiente da água deve ser parte integrante das práticas sustentáveis na pecuária. Isso inclui a proteção de nascentes, o uso responsável de recursos hídricos e a adoção de tecnologias que minimizem o desperdício e a contaminação.

A sustentabilidade na pecuária não é apenas uma questão ambiental, mas também econômica, pois práticas sustentáveis tendem a reduzir custos e aumentar a eficiência a longo prazo.

Dica Bônus: bebedouro adequado, limpeza e vazão

Não basta garantir uma fonte de água de boa qualidade. É fundamental também contar com um bebedouro adequado.

O material do bebedouro, a frequência de limpeza e a vazão de água são aspectos importantes, especialmente em sistemas de confinamento. Muitas vezes, o manejo inadequado do bebedouro ou uma vazão insuficiente podem afetar o consumo de água, mesmo quando a fonte é de alta qualidade.

A vazão de água, por exemplo, é frequentemente mais importante do que o tamanho do bebedouro, pois garante a disponibilidade constante de água fresca para os animais. Além disso, o material do bebedouro pode influenciar desde o sabor da água até a presença de metais, impactando diretamente no consumo e no frescor e temperatura da água, o que é essencial para garantir o consumo.

Por fim, uma drenagem bem planejada, direcionando a água para fora das baias, é fundamental para evitar problemas de umidade e empoçamento no interior das baias, contribuindo para o bem-estar e o desempenho dos bovinos.


Foto por: Bela Magrela

As lições da Fazenda Manah, PA

A Fazenda Manah, pertencente ao Grupo Bocchi e localizada em Santana do Araguaia-PA, adota uma abordagem estratégica e sustentável no uso da água em suas operações pecuárias, especialmente no confinamento.

Os técnicos do Confina Brasil observaram que a fazenda possui um sistema de drenagem para otimizar o uso da água e garantir a limpeza e o manejo adequado dos bebedouros.

O confinamento da Fazenda Manah é estruturado com bebedouros concretados e com azulejos, posicionados de forma conjugada entre dois currais e próximos à saída do confinamento. Esse design permite a vazão total da água, facilitando a limpeza e evitando o acúmulo de resíduos.

Além disso, o sistema de drenagem, que canaliza a água para decantadores, assegura que a água suja seja reciclada de maneira eficiente, contribuindo para a sustentabilidade da operação.

Outro aspecto importante é a irrigação das áreas de confinamento, feita por meio de canhões de água estrategicamente posicionados nas extremidades do curral de engorda, o que evita danos e facilita tanto o manejo dos animais quanto a limpeza do curral. A estrutura ainda conta com cobertura em zinco nas linhas de cocho, protegendo os insumos das chuvas e mantendo o ambiente mais fresco, mesmo em períodos mais quentes.

Essas práticas refletem o compromisso da Fazenda Manah com o uso responsável da água, essencial para a manutenção da produtividade e sustentabilidade na pecuária.

Compreender e aplicar boas práticas, como as observadas nessa propriedade, é um passo essencial para melhorar a eficiência, a produtividade e a sustentabilidade na pecuária.

Ao garantir que o rebanho tenha acesso à água de alta qualidade, o pecuarista investe no futuro da sua fazenda e na saúde dos animais.

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Matéria originalmente publicada em Confina Brasil


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