Foto: Bela Magrela
O bem-estar animal na pecuária intensiva tem se consolidado como uma preocupação crescente para o mercado consumidor de produtos de origem animal, tanto no cenário doméstico quanto internacional. Paralelamente, essa questão tem ganhado relevância entre os produtores rurais, impulsionados pela crescente demanda por práticas mais éticas e sustentáveis.
Além disso, as fazendas estão cada vez mais conscientes dos impactos econômicos negativos decorrentes de maus-tratos aos animais. Traumas como hematomas, lesões e contusões durante o manejo afetam diretamente a qualidade da carne e o rendimento de carcaça, reduzindo o valor final dos produtos comercializados e gerando prejuízos tanto na cadeia de produção quanto no acesso a mercados mais exigentes.
Para atender a essas exigências, muitas propriedades no Brasil estão adotando tecnologias avançadas e inovações em manejo que garantem condições adequadas aos animais, promovendo não apenas melhorias na saúde e no conforto, mas também ganhos de eficiência produtiva. Essas medidas incluem desde sistemas de monitoramento em tempo real até protocolos rigorosos de alimentação e sanidade, atendendo às exigências dos principais mercados globais e contribuindo para uma produção mais responsável e competitiva.
Em visitas a fazendas no Espírito Santo, o último trecho da Expedição Confina Brasil em 2024 fornece ótimos exemplos de como essas práticas estão sendo implementadas no campo do estado capixaba.
Foto: Bela Magrela
O manejo racional é uma prática já conhecida de bem-estar animal que visa minimizar o estresse e otimizar a eficiência no manejo, respeitando o comportamento natural dos bovinos.
Estudos sobre comportamento bovino mostram que esses animais possuem uma visão panorâmica, sensibilidade ao movimento e uma forte aversão a ruídos bruscos e ambientes desconhecidos. Dessa forma, estruturas de currais projetadas para minimizar estímulos estressores, como sombras, ruídos altos e ângulos fechados podem evitar confusão ou pânico.
A empresa capixaba Currais Itabira, reconhecida pela fabricação de currais pré-moldados e protendidos, tem investido em projetos que aliam inovação tecnológica e conhecimento técnico sobre o comportamento dos bovinos. Suas estruturas seguem o conceito de design antiestresse, com curvas suaves que facilitam o movimento natural dos animais e evitam campos cegos, reduzindo o risco de colisões e lesões. Além disso, a flexibilidade das peças protendidas permite a absorção de impactos sem se danificarem, diminuindo acidentes tanto com os bovinos quanto com os operadores, não apenas melhorando a segurança e o bem-estar dos animais e colaboradores, mas também aumentando a durabilidade das estruturas, proporcionando maior resistência a desgastes e prolongando a vida útil dos currais, mesmo sob condições intensas de uso diário.
Os currais Bud Box, por exemplo, utilizados nas fazendas Paraíso e a Reata, que pertencem ao grupo Frisa, representam uma preocupação extra ao adotar uma estrutura moderna que facilita o manejo dos animais com base em seu comportamento natural. A ideia central é que, ao entrar em uma área fechada e perceber que não podem continuar em frente, os bovinos tendem a voltar para o local de origem. Este comportamento é aproveitado para guiar os animais de forma intuitiva para a seringa ou corredor de embarque.
A eficiência do Bud Box também está relacionada ao número de animais que ele acomoda. Superlotar o espaço pode aumentar o estresse e prejudicar o fluxo natural. É recomendado que o tamanho do Bud Box seja dimensionado conforme a capacidade do corredor de saída, garantindo que os animais possam se mover em um fluxo contínuo. A estratégia se bem conduzida, além de benéfica ao bem-estar animal, também traz segurança aos trabalhadores e dinamiza a operação.
Outra prática importante no bem-estar do gado é o controle de poeira e a climatização adequada dos confinamentos.
Na Fazenda Esplanada, por exemplo, o uso de microaspersão para controle de poeira, é uma técnica que utiliza pequenas partículas de água para reduzir a poeira suspensa no ambiente, o que ajuda a manter o ambiente mais úmido, reduzindo a probabilidade de problemas respiratórios, uma enfermidade de alta prevalência em confinamentos bovinos.
Outro benefício é a climatização do ambiente, fundamental para garantir o desempenho e bem-estar de bovinos confinados, especialmente em regiões mais quentes, uma vez que o aumento da temperatura corporal dos bovinos pode levar a uma redução no consumo de alimento e, consequentemente, na performance.
Foto: Bela Magrela
O fornecimento de uma dieta balanceada, ajustada às necessidades nutricionais dos bovinos em diferentes fases de desenvolvimento, é fundamental para promover saúde e bem-estar. A produção agrícola e pecuária na Fazenda Esplanada e na Fazenda Paraíso, permite que essas propriedades façam seu próprio milho e sorgo, oferecendo silagem de alta qualidade aos bovinos.
Uma das estratégias da Fazenda Reata é a inclusão de milho úmido em suas dietas. O milho úmido, por ser colhido antes do completo amadurecimento e armazenado com maior teor de umidade, apresenta benefícios operacionais e uma maior digestibilidade, resultando em um melhor aproveitamento energético pelos animais, aumentando a eficiência alimentar. Além disso, o uso de aditivos como vitaminas e selênio na dieta, nutrientes que ajudam a prolongar a vida útil da carne nas prateleiras, um diferencial competitivo importante, especialmente no mercado de exportação.
A Fazenda Floresta, além de ser um centro de testes para os produtos da Currais Itabira, utiliza tecnologias para monitorar o desempenho nutricional do gado. Ao produzir sua própria silagem e fornecer uma dieta balanceada, a propriedade consegue melhorar a eficiência alimentar e reduzir as despesas com a compra de rações processadas.
Além disso, o uso de pivôs de irrigação em regiões de estiagem prolongada foi identificado como uma estratégia que vem ganhando força em propriedades na Bahia e Espírito Santo. A tecnologia assegura o desenvolvimento das culturas e melhora a previsibilidade da produção, sendo uma ferramenta altamente estratégica para garantir a quantidade e qualidade de insumos suficientes.
Foto: Bela Magrela
Durante o período de seca, as fazendas enfrentam o desafio de garantir a oferta de alimento e manter o desempenho dos animais. A estratégia de "sequestro/resgate”, como comumente conhecida, tem sido uma solução eficaz adotada pela Fazenda Heringer no ES.
Essa propriedade utiliza cercados amplos e trata os animais com cana picada e proteinado. Essa prática retira a pressão de pastejo das áreas de pastagem adubadas, permitindo que a vegetação se recupere sem ser sobrecarregada. Isso protege o solo da degradação, melhora a retenção de umidade e permite que a pastagem esteja em melhores condições para o próximo ciclo.
Para os bovinos, essa prática garante a manutenção do fornecimento de uma dieta balanceada, evitando a perda de peso e mantendo a saúde e o bem-estar, que podem ser prejudicados pela escassez de forragem de qualidade nas épocas secas. A suplementação no confinamento, muitas vezes com silagem, grãos e minerais, maximiza o ganho de peso mesmo nas condições adversas da seca.
O uso de tecnologias para rastreamento e controle da produção é outra tendência em expansão. A Fazenda Esplanada, por exemplo, utiliza sistemas de gestão digital para controlar o peso e a saúde dos animais, promovendo intervenções rápidas e precisas, caso necessário. Já na fazenda Paraíso são utilizados drones, que integrados a um software, trazem medições precisas todos os dias antes do primeiro trato, como: inventário de animais, leitura de cocho e índice de bem-estar animal. Além da utilização do drone, também utilizam sistema de distribuição de trato automatizado, assim como na fazenda Reata, buscando a maior precisão em cada parte da operação.
O bem-estar animal na pecuária não é apenas uma exigência ética e de mercado, mas também uma estratégia para aumentar a produtividade e a qualidade da carne. As fazendas visitadas no Espírito Santo demonstram como a adoção de práticas inovadoras pode beneficiar tanto os animais quanto os produtores.
O manejo racional, melhorias nas instalações do confinamento, a nutrição de precisão e o uso de tecnologias de monitoramento são algumas dessas iniciativas que estão possibilitando que a pecuária no Brasil atue de forma sustentável e comprometida com o bem-estar dos animais, mostrando que é possível unir tradição e inovação.
A 5ª edição do Confina Brasil finalizou suas visitas em 2024. No total foram 16 semanas de trabalho intenso entre os meses de junho a outubro, rodando por 13 estados e visitando 150 propriedades.
O próximo passo do projeto é analisar todas as informações que foram coletadas presencialmente e através de mas de 70 entrevistas realizadas remotamente para finalizar o relatório Benchmarking Confina Brasil 2024, que será apresentado ainda este ano.
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