Panorama das negociaes
A ideia central da reunio em Cancn adotar um pacote de decises que permita definir alguns temas relevantes para a negociao do clima, o que abriria espao para continuar negociando em 2011. A meta principal aqui na COP-16 definir o 2 perodo de compromisso para os pases desenvolvidos, pois isso criaria a obrigao para reduzir emisses, geraria uma demanda por crditos de carbono (o que pode beneficiar o Brasil) e cumpriria com a obrigao dos pases desenvolvidos em liderar o combate s mudanas do clima.
improvvel que os pases aprovem esse 2 perodo de compromisso de reduo de emisses aqui na COP-16 (muitas crticas quanto posio do Japo que se manifestou dizendo que no aceitar esse compromisso), mas, apesar disso, o texto que foi distribudo no sbado tarde na reunio plenria contm elementos importantes que visam facilitar a deciso de um acordo aqui em Cancn.
Os rumores de que o Mxico como pas sede soltaria um texto-deciso paralelo, no negociado entre os pases, foram fortemente negados pela presidente da COP-16 (Ministra Patricia Espinosa Cantellano, da delegao mexicana). O Mxico est conduzindo muito bem a reunio, diferentemente do que fez a Dinamarca na COP-15, e o novo texto apresentado na reunio de sbado ir guiar as discusses nesta semana, apesar das crticas feitas a ele.
A CNA ir acompanhar as negociaes at o final, pois evidente a relao entre agricultura e clima (prticas de mitigao de emisses e preocupao com adaptao aos impactos do clima), o que exige uma ateno especial do Brasil.
REDD Plus
As discusses sobre manter as florestas em p para preservar seu contedo de carbono (Reduo de Emisses por Desmatamento e Degradao REDD Plus) esto amarradas a dois pontos: (i) como ser o financiamento dessas aes (dinheiro vindo de pases desenvolvidos, ou tambm poder existir um mercado de crditos de carbono ligado a essas florestas?); (ii) como garantir a proteo da biodiversidade, o respeito aos direitos dos indgenas e os drivers do desmatamento, conhecidas como salvaguardas dos projetos REDD.
O Brasil tem feito um esforo enorme e bem sucedido para reduzir o desmatamento e manter suas florestas. Suas metas para 2020 esto quase alcanadas j em 2010. Mas est fazendo tudo com o nosso dinheiro. A Europa e os Estados Unidos, que destruram praticamente todas as suas florestas e no pretendem recomp-las, relutam em ceder seus recursos para a constituio do fundo que financiaria a preservao das florestas, onde elas ainda existem, nos pases em desenvolvimento.
Um acordo sobre esse tema pode significar um grande resultado em Cancn, considerando que a proteo das florestas uma questo central na agenda do clima.
O Brasil comea a fazer projetos REDD, independente de uma deciso na negociao do clima, com efeitos positivos na manuteno da floresta.
Agricultura e Clima
O texto que trata da relao entre agricultura e clima prev a criao de um programa de trabalho na Conveno do Clima, para tratar com detalhes como a agricultura pode beneficiar o clima (produzir mais emitindo menos carbono). Se o texto for aprovado, os pases devero enviar sugestes de como deve ser esse programa de trabalho, e a CNA ir trabalhar para isso como forma de dar suporte ao governo brasileiro no incio de 2011. O foco desse grupo dever ser as questes metodolgicas ligadas agricultura e carbono (por exemplo, a questo do carbono nas pastagens, os benefcios do plantio direto, pontos que ns no Brasil conhecemos (EMBRAPA) e que precisam evoluir no contexto da Conveno do Clima).
Outra questo importante a previso de que os pases desenvolvidos no podem criar restries ao comrcio de produtos agrcolas com base em exigncias de contedo de carbono (carne oriunda de regio desmatada ter ainda mais carbono, por exemplo). Isso central para o Brasil.
No podemos aceitar que o esforo comum para combater a mudana climtica seja usado pelos pases desenvolvidos como pretexto para se erguer barreiras comerciais contra os pases em desenvolvimento.
Aes de Mitigao
Adotar aes de mitigao nacionalmente apropriadas (conhecidas no jargo negociador como NAMAs) a forma como os pases em desenvolvimento contribuiro para reduzir emisses. As negociaes nesta primeira semana ficaram fortemente ligadas a como mensurar, reportar e verificar as aes de mitigao, para efetivamente comprovar que uma determinada atividade realmente ocorreu e gerou reduo de emisses). Os pases em desenvolvimento no querem regras muito estritas, enquanto os pases desenvolvidos, que teriam que financiar grande parte dessas aes, exigem critrios rigorosos para essa mensurao.
O ponto importante para a agricultura brasileira nessa discusso que como o governo anunciou aes de mitigao na agricultura e na pecuria (Plano Agricultura de Baixo Carbono) o financiamento para essas aes dever vir do prprio governo e do setor privado brasileiro.
Metano e Pecuria
Existe uma discusso aqui em Cancn, ligada ao impacto dos diferentes Gases de Efeito Estufa (GEEs), que importantssima para a agricultura brasileira. uma questo de metodologia, que considera os diferentes gases e seus impactos para o clima, e que hoje adota uma forma de calcular criticada pelo governo brasileiro. Nas reunies que ocorreram nesta semana, o Brasil foi muito enftico quanto necessidade de revisar essa metodologia, que na realidade acaba focando gases como metano, e deixa de enfatizar o papel de gases que tm um impacto muito maior na atmosfera, como o dixido de carbono (CO2), da emisso de combustveis fsseis.
O 2. Inventrio Brasileiro de Emisses, publicado no final de novembro, traz esse debate para o plano internacional, e certamente preciso avanar nesse ponto para permitir clculos mais precisos das emisses dos pases. De acordo com a metodologia defendida pelo Brasil, as emisses da agricultura cairiam de 18,9% em 2005 para 10,2%.
Parece incompreensvel que, como resultado dessas metodologias de medio de GEE, o Brasil aparea emitindo quase a mesma quantidade de gases que toda a Unio Europeia e um tero das emisses dos Estados Unidos, quando essas so economias altamente industrializadas, com elevadssimo padro de consumo e totalmente baseadas no carvo e no petrleo.
Cancn, 8 de dezembro de 2010.
Senadora Ktia Abreu
Presidente da Confederao da Agricultura e Pecuria Do Brasil (CNA).
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