A análise das 2.205 amostras de sangue de animais colhidas em cinco municípios do Paraná - interditados por causa do diagnóstico de febre aftosa em São Sebastião da Amoreira - indica que é grande a possibilidade de confirmação de novos focos da doença em propriedades que até então não figuravam como suspeitas. As propriedades estão localizadas nos municípios de Amaporã, Grandes Rios, Loanda, Bela Vista e Maringá.
Alguns lotes das amostras analisadas pelo Laboratório Nacional Agropecuário de Porto Alegre deram resultado positivo acima do esperado pelos veterinários, apurou o Valor com fontes veterinárias oficiais. Outros lotes, porém, apresentaram características semelhantes a uma reação normal dos bovinos à vacinação realizada em novembro.
A equipe veterinária do ministério nega oficialmente os novos focos. "A detecção da aftosa por proteínas não-estruturantes é diferente do isolamento do vírus. Precisa de um contexto, uma análise propriedade por propriedade, para fazer a ligação entre o trânsito dos animais e o vírus", afirma o coordenador de Combate a Doenças, Jamil Gomes de Souza. Em dezembro de 2005, o Ministério confirmou um foco da doença em São Sebastião da Amoreira com base em resultados sorológicos, o que levou a uma disputa política com o governo estadual.
Nos bastidores, porém, o ministério pressiona o governo do Paraná com os resultados para forçar o dono da fazenda de São Sebastião da Amoreira, André Carioba, a aceitar a indenização para abater imediatamente as suas 2.212 cabeças de gado. Carioba tem uma liminar que impede o sacrifício dos animais.
Na tentativa de influenciar a missão veterinária da União Européia que está no país visitando as regiões onde foram registrados focos de aftosa, o ministério acelerou o processo de avaliação do rebanho bovino de Carioba. O objetivo é fechar um acordo de indenização antes da reunião final com os europeus, marcada para sexta-feira. "Isso seria muito bom para o Brasil. Por isso, acredito num acordo rápido", resume o secretário de Defesa Agropecuária, Gabriel Maciel.
Os veterinários do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento temem que um acordo político possa complicar a situação diante dos europeus. "É uma negociação muito grave para que isso seja um cabo-de-guerra. Como o mundo vai ver isso, como algo justo ou oportunista?", questiona Jamil Gomes de Souza, coordenador de Combate a Doenças do Ministério.
As especulações em torno do acordo entre os governos federal, estadual e Carioba variam entre R$1,5 milhão e R$4 milhões, a depender do que for incluído na avaliação. Há divergências sobre o direito de Carioba receber de volta o dinheiro gasto com o manejo e a alimentação do gado desde outubro, quando a fazenda foi interditada para o comércio, além dos lucros cessantes e danos à imagem do pecuarista.
Otimista, o secretário Gabriel Maciel entende que o acordo no Paraná deve seguir condições parecidas às negociações feitas com a fazenda Bonanza, em Eldorado (MS), vizinha de cerca do primeiro foco registrado no país em 2005, na fazenda Vezozzo. "Vamos chegar a um acordo bom para todas as partes. Queremos alcançar o consenso", defende.
Fonte: Valor Econômico
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