"Perdi um filé a vácuo de um frigorífico de Goianira/GO, com odor e sabor de fígado. Desconfiado, testei um bifinho e desisti de assar para o almoço. É coisa muito séria, e ocorre com maior frequência no segundo semestre do ano. Congelei o filé para demonstrar a quem quiser conhecer.
Produtores de carne precisam agir rápido via rastreabilidade para descobrir o que está causando o sabor indesejável ou vão perder mercado".
Um desabafo do professor Pedro Eduardo de Felício FEA – Unicamp alcançou proporções que nem mesmo o autor aguardava. A mensagem em seu twitter expressava sua indignação como um consumidor de carne bovina e extrema preocupação como profissional vinculado à área de alimentos. Passado quase um ano, não há conclusão concreta quanto ao fato, nenhuma responsabilidade foi assumida, nem providências para solucioná-lo. Consequência: abalo na credibilidade e expectativas de consumidores que já vivenciaram esse constrangimento e ainda aguardam explicações. Ponto negativo para o
marketing da carne bovina.
Vários foram os argumentos levantados para explicar o ocorrido: o que ou quem culpar pelo sabor e odor de fígado notado não só pelo professor Pedro, mas por diversos consumidores e apaixonados pelo “churrasquinho nosso de cada dia” que também ganharam voz neste debate? A quem reclamar? Consenso nenhum foi gerado. E as explicações foram muitas. O assunto virou polêmica e ganhou destaque na mídia
on-line.
Algumas das manifestações:
1-) uso de caroço de algodão em proporção superior ao recomendado;
2-) período longo de confinamento (mais de 150 dias) com alta densidade protéica;
3-) período mínimo de jejum;
4-) animais mal sangrados ou contato da carcaça com bile;
5-) característica de carne de touros devido aos altos índices de 2-propanona e etanal (GORRAIZ
et al., 2006);
6-) níveis elevados de ferro e/ou mioglobina (CALKINS & CUPPETT, 2006; YANCEY
et al., 2006), o que pode estar associado a estresse ante abate, gerando hematomas na carcaça, ou mesmo uma característica de alguns cortes como alcatra que possui maior concentração deste mineral.
Cabe aqui ressaltar que o objetivo deste texto não é defender um destes pontos de vista.
Diante disso, uma antiga característica da cadeia pecuária brasileira ficou mais uma vez bem evidente: cada elo que compõem essa atividade geralmente busca defender seus interesses e lucratividade. Confinamento versus criação a pasto, impasses entre produtor, frigoríficos e varejo. Não há preocupação ou mesmo um objetivo comum. Não há colaboração mútua. E problemas como este continuam a ameaçar a qualidade e prestígio dos produtos “
made in Brazil”.
Ouvir e atender consumidores internos cria base sólida para conquista de paladares lá fora.
Insatisfações trazem soluções. Soluções repercutem em eficiência. Eficiência gera confiança. Confiança e credibilidade, lucros. É isso aí.
*Texto elaborado por
Fernanda Canello, granduanda em medicina veterinária e analista júnior da
Scot Consultoria.
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