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Scot Consultoria

Usando e abusando de seres vivos


Quinta-feira, 11 de maio de 2006 - 12h17

Fernando Reinach* Voc pra em uma lanchonete e pede um cachorro-quente. No po, o trigo veio de uma semente, o ketchup tomate e a mostarda, uma semente. A salsicha carne de mamfero e o papel que embrulha tudo, a celulose de uma rvore. Utilizamos um nmero to grande de produtos derivados de outros seres vivos que jamais poderamos viver sem eles. At recentemente nossa relao com esses produtos era passiva. Coletvamos, processvamos, crivamos ou plantvamos seres vivos existentes na natureza de modo a poder consumir os materiais que eles produzem. Recentemente, essa relao se tornou ativa: passamos a modificar os seres vivos de modo a induzi-los a produzir o que necessitamos. So os fungos que produzem enzimas para nossos detergentes ou as bactrias que produzem hormnios ou vacinas. No incio do sculo 21, surgiu outra forma de utilizar os seres vivos. Somos capazes de transform-los em minsculas fbricas de produtos qumicos. A indstria qumica, que produz tecidos sintticos e plsticos, foi construda sobre dois pilares. O primeiro a qumica, uma srie de conhecimentos que permitem o encadeamento de reaes capazes de transformar uma molcula em outra. Como uma criana que monta uma boneca encaixando a cabea e os braos ao corpo, os qumicos montam novas molculas adicionando tomos e grupos qumicos a uma molcula bsica. O segundo pilar so os esqueletos de carbono. Essas pequenas molculas derivadas do petrleo so utilizadas, semelhana de peas de Lego, para construir molculas mais complexas ou montar polmeros e plsticos. Agora entra em cena a biotecnologia industrial. Enquanto na indstria qumica cada passo da produo se resume a uma reao qumica executada em grandes reatores, na biotecnologia industrial o que se faz construir um organismo vivo capaz de executar em seu interior cada um dos passos executados na antiga fbrica. Para isso se coloca no genoma desses microorganismos genes capazes de produzir as enzimas necessrias para executar cada reao e desse modo se "instrui" o ser vivo a executar os passos que antes eram executados na fbrica. Construdo o ser vivo, basta deix-lo crescer que ele se encarrega de fazer tudo o que era feito na fbrica. Em vez de uma grande fbrica agora temos enormes frascos contendo bilhes de bactrias - minsculas fbricas. Apesar de essa tecnologia estar em sua infncia, j existem no mercado tecidos e plsticos produzidos por microorganismos. Faz milnios que o homem descobriu que existem na natureza bactrias e fungos com rotas metablicas capazes de transformar acar em lcool. Utilizamos essas rotas naturais para produzir bebidas alcolicas. Mas foi s no sculo 20 que aprendemos a manipular os seres vivos e agora, em vez de depender somente de rotas metablicas preexistentes, nos tornamos capazes de construir seres vivos com as rotas que nos interessam. Primeiro construmos as fbricas, agora estamos colocando cada uma delas dentro de um ser vivo. o supra-sumo da explorao do pequeno animal-bactria pelo grande animal-homem. *Fernando Reinach bilogo
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