A Cmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou por expressiva maioria de votos dos seus vereadores, em 21 de maro ltimo, uma lei que colocar a cidade e o pas em situao bizarra no cenrio cientfico nacional e internacional, caso o veto do prefeito seja derrubado. Trata-se da proibio da vivisseo de animais para fins de pesquisa cientfica. Alm do contedo obscurantista da proposta, sua justificativa apresenta razes absurdas, entre as quais a suposio de que tais pesquisas no so mais necessrias, dadas as diferenas entre humanos e no-humanos e a existncia de tcnicas alternativas de pesquisa biomdica.
Qualquer cidado de mediana cultura se d conta da inverdade dessas justificativas. As funes orgnicas dos animais so, em grande parte, muito semelhantes s dos seres humanos, e exatamente por isso que o desenvolvimento de praticamente todos os medicamentos que tomamos diariamente passa por uma fase prolongada de experimentao animal antes dos testes em humanos. Alm disso, tcnicas alternativas so usadas pelos cientistas, mas no substituem a experimentao animal direta. Ou algum cr que seria possvel desenvolver um procedimento cirrgico para extrair um tumor cerebral atravs da cultura de clulas isoladas, ou por meio de modelos computacionais?
A lei aprovada pelo plenrio foi vetada de modo impecvel pelo prefeito do Rio de Janeiro, que ressaltou sua inconstitucionalidade e ilegalidade, alm de reconhecer que o uso de animais de experimentao indispensvel para o desenvolvimento cientfico e suas aplicaes teraputicas.
Outra dimenso relevante, relacionada a essa lei absurda, reside na qualidade do vnculo entre representantes e eleitores um dos segredos das chamadas democracias representativas.
Situaes como essa, nas quais os primeiros exercem seus mandatos de forma autrquica e movidos apenas por suas supersties e interesses pessoais, sem consultar previamente os segmentos envolvidos com o tema especfico de cada lei proposta, so sempre deletrias e anti-republicanas.
O Rio de Janeiro possui o segundo maior parque cientfico do pas. Parte considervel da pesquisa, da ps-graduao e da vida universitria est sediada nesse estado, por meio de uma malha complexa de instituies municipais, estaduais e federais, qual soma-se um expressivo conjunto de instituies privadas. Com esse patrimnio, a cidade necessita de representantes atentos sua manuteno e desenvolvimento. Nada mais avesso a isso do que o exerccio irresponsvel e miditico da representao poltica.
Renata Lessa - Presidente do Instituto Cincia Hoje
Roberto Lent - Diretor-adjunto do Instituto Cincia Hoje
Fonte: Cincia Hoje - volume 38 maio de 2006
<< Notícia Anterior
Próxima Notícia >>